Ela olha pra mim, jogada no canto.
Onde há muito tempo a deixei...
Todos os dias ela sonha em voltar a ser o que era.
Ela me olha com um ar sincero como o de quem diz: me ajuda.
Muito tempo se passou, mas me lembro que já a possuí.
Sei que ela me completa, sei que juntas somos melhores.
Mas o tempo ainda passa, cada vez mais distante.
Sinto-me velha ao ver que muitas novas aparecem.
Gostaria de poder me esconder, de poder gritar pra ela, dizer que ainda posso me destacar.
Mesmo com a idade, com o cansaço, com as marcas, sei que posso ser maior.
As marcas me trazem orgulho, de quem batalhou, aprendeu, aproveitou, e cresceu.
Estava com ela desde pequena, desde que ela nem sabia o que fazer.
Amadureci e sei que ela também.
Me caracterizo pela arrogância, olho em volta, tantas iguais mas nenhuma tem as virtudes que tive, nenhuma viu o que eu vi. Sinto em ter de deixá-la, após tantas lagrimas, machucados, mas o que nunca vou deixar de lembrar, era de como ela me fazia voar.
Sou uma simples e velha sapatilha que relembro as glórias do passado sempre que vejo em quem ela se transformou.
Choro por não poder mais levá-la a flutuar nos palcos, mas sei que juntas construímos o legado.
Todo fim de espetáculo fico ali em seu quarto a esperando chegar com rosas em uma não, e as novas sapatilhas na outra...
E me orgulho ainda mais quando ela joga tudo isso no chão vem direto ao meu encontro, segura o que sobrou de meu gesso e diz emocionada, como quem se sente apaixonada:
Obrigada minha menina.
Nietzche